Menino Deus

Menino Deus
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós " (João 1,14)

«Quanto mais Me honrardes, mais Eu vos favorecerei».

Menino Jesus de Praga

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Nascimento do Menino Jesus


Por D. Ildefonso Rodriguez Villar

1.º Ingratidão dos seus

Vê como se cumprem à letra aquelas palavras: «veio para os seus e os seus não o receberam». Que ignorância das coisas de Deus! Se eles soubessem o que ia passar-se naquela noite!… Mas aí está o mérito da submissão e resignação nas mãos de Deus…, não pensar no porquê nem no para quê dispõe Deus as coisas deste ou daquele modo.
Por outra parte aqueles puderam ter desculpa da sua ignorância…, mas nós não temos milhares de provas para conhecer as coisas de Deus e saber quem é Ele e onde se encontra?
Pedir perdão ao Senhor das muitas vezes que quis entrar no nosso coração e nós não o admitimos…; das muitas vezes que Ele desejou fazer alguma coisa… talvez alguma coisa de grande conosco e nós o impedimos. Enfim, temamos e tremamos, pois não sabemos a responsabilidade que nisto temos e a conta que havemos de dar a Deus por isso.

2.º O Nascimento

Se o esquecimento, o abandono e o desprezo foi o modo como os seus receberam a Jesus, contempla agora a Maria…, penetra no interior do presépio e… olha com santa curiosidade para tudo o que ali se passa. Iluminada pelo Espírito Santo, compreendeu Maria que o momento do nascimento de seu Filho tinha chegado… e naturalmente, ainda que cansada da penosa e longa viagem, não quer descansar.
Mais do que nunca entrega-se agora à oração… Os seus ardentes anelos e fervorosos suspiros fazem uma violência irresistível ao coração de Deus… que se deixa vencer pela oração de Maria; e quando esta chegou ao grau mais elevado daquele êxtase de amor, o Espírito Santo faz com que de repente…, de um modo milagroso…, ao abrir Maria os seus olhos, se encontre entre as dobras do seu manto…, branco como um floco de neve…, mais belo do que os anjos…, O Filho de Deus e o seu filho. Maria Virgem antes do parto, é virgem sem mancha no parto…: como o raio de sol sai por um cristal, sem o quebrar e sem o manchar…, assim nasceu o Filho de Maria.
Aproxima-te bem, sem medo nenhum e contempla aquela cena. Jesus vai a receber a primeira adoração e com ela as primeiras carícias de uma mãe… Maria adora ao seu Deus, vivo ali… real e fisicamente presente…, mas como mãe julga-se com direito a tomar aquele menino e a imprimir nas suas faces delicadas os seus primeiros beijos… Que beijos mais carinhosos!… Que abraços mais efusivos!… Que carícias mas ternas!… Desperta bem a tua imaginação, que tudo será nada para pintar esta cena.
Jesus não sente a pobreza do estábulo…, nem o frio da noite…, porque a primeira coisa que viram seus olhos ao abri-los à luz deste mundo, foi o rosto de sua Mãe. Lembra o encanto de uma criancinha quando sorri ao contemplar qualquer coisa agradável aos seus olhitos e pensa no que seria o sorriso de Jesus ao ver a sua Mãe tão pura…, tão bela…, tão formosa. Mãe e Filho parece que não se fartam de contemplar-se mutuamente… e este olhar de Maria é consolação e alegria para Jesus… e o olhar de Jesus é aumento de graça e santidade para Maria.
Com que respeito e devoção e ao mesmo tempo com que ternura e delicadeza iria a Santíssima Virgem envolvendo aquele corpinho de seu Filho nos brancos e pobres paninhos… e com que dor e pena tão profundas o colocaria nas palhas do presépio… Ela foi a primeira que meditou nesta verdade que tinha diante dos olhos…: Deus num presépio!… Deus abraçado tão estreitamente com a pobreza, que nem casa nem habitação tem para nascer!… Que será a pobreza quando assim aparece tão unida ao Filho de Deus! Pede a Maria que ta dê a conhecer, para que ames esta virtude.

3.º O Filho Primogênito

Diz o Evangelho que Maria deu à luz o seu Filho Primogênito… Se foi o primogênito, isto é, o primeiro, é porque depois devia ter outros; e assim é, felizmente para nós. Jesus é o primeiro…, é o irmão mais velho…, mas logo a seguir vimos nós, que também somos filhos de Maria. A Mãe de Deus é nossa Mãe!… Jesus é nosso irmão… Irmãos de Cristo!… Já pensaste bem nisto? Demoraste-te a considerar o que isto significa da parte de Deus e da tua parte? Da parte de Deus é o cúmulo da bondade e do amor para contigo…; da tua parte é a maior glória e dignidade a que podes aspirar… é o título dulcíssimo que nem aos anjos quis dar… Maria é a rainha dos anjos, mas não é Mãe deles como o é de nós. Deste modo, diante do berço de Jesus…, em presença desta Mãe, medita e saboreia estas dulcíssimas verdades.

4.º

Antes de terminar, aproxima-te de Maria e pede-lhe que por uns instantes te deixe ter nos braços a seu divino Filho…, recreia-te com Ele…, abraça-o e cumula-o de toda a espécie de carícias… e sobretudo estreita-o ao teu peito de tal modo que o metas no mais profundo do teu coração. Suplica-lhe que troque o seu berço e o seu presépio pelo teu coração, que aí lhe darás mais abrigo e calor. Por fim, pede ao Menino Jesus que te ensine a amar a sua Mãe… Pede à Mãe que te ensine a amar a Jesus.
Repara em que a vida de Jesus começa olhando para Maria e… também na cruz termina olhando para Maria… Não quererá dizer-te com isto que Ele quer que toda a tua vida se passe também sob o olhar de Maria?… Que doce não é pensar que assim vivemos alumiados e consolados com a luz dos olhos de Maria!… Aprende a olhar para Maria e a recordar que Ela olha para ti sem cessar…
D. Ildefonso Rodriguez VILLAR. Pontos de Meditação sobre a Vida de Nossa Senhora. Porto, (s. e.), 1946, p.185-189.

Sem comentários:

Enviar um comentário