Menino Deus

Menino Deus
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós " (João 1,14)

«Quanto mais Me honrardes, mais Eu vos favorecerei».

Menino Jesus de Praga

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O Menino Jesus e a Cruz



“… Encontrareis um recém-nascido envolto em panos e deitado sobre uma manjedoura”. (Lc 2,12)
São Paulo da Cruz tinha uma estampa do Menino Jesus dormindo sobre a cruz e, do seu lado, os objetos da Paixão:
Tinha eu, anos atrás, um quadro de um belo Menino, dormindo placidamente sobre uma cruz. Quanto me agradava este símbolo! Dei-o a uma pessoa de vida santa para que ela se habituasse a dormir sobre a Cruz de Jesus em doce silêncio e tranquila paciência. Eu queria, como desejo a você, que aquela alma fosse criança em pureza e simplicidade e dormisse sobre a cruz de Jesus. Portanto, você, que no Santo Natal, terá o Menino no seu coração, todo transformado Nele por amor, durma com Ele no berço da Cruz e, embalado pela melodia da divina canção que Maria Santíssima cantará, você adormeça com a Divina Criança, transformada num só coração com Ela. O Cântico de Maria Santíssima será: seja feita a vossa vontade, assim na terra, como no céu; a outra estrofe será: trabalhar, padecer e calar; e a terceira: não te escusar, não te lamentar, não demonstrar ressentimento… Que te parece esta canção? Aprende-a, cante-a, dormindo sobre a Cruz e cumpre-a com fidelidade que eu te asseguro te tornarás santo…”. (São Paulo da Cruz, Cartas III, p. 602-604)
Depois desse recado de São Paulo da Cruz, o que essa estampa tem ainda a nos falar?
Deus assumiu por completo a realidade humana. Enquanto dor, vemos o recém-nascido em total pobreza e despojamento, ignorado pelos grandes do mundo e privado do aconchego de um lar. Enquanto amor, Ele não colocou critérios e nem escolheu o lugar para se fazer solidário a nós; manjedoura ou cruz… a causa foi maior do que as circunstâncias. O cristão que não consegue relativizar a dor, em vista do amor, ainda está distante das lições do Mestre.
Os objetos da Paixão estão a sua (a nossa) volta. O que faria uma criança se, ao nascer, ela já tivesse a consciência de que a sua vida, seria um caminho de cruz? Se ela já pudesse sentir o incômodo e a dor de uma coroa de espinhos, da flagelação, dos insultos e desprezos humanos? Milhares de crianças, hoje, no mundo, estão nessa situação: pelo flagelo da fome e da miséria, pela ausência de carinho e cuidados, vítimas de um sistema de morte que descarta e abandona.
A cruz é lugar de descanso. O Menino sobre a cruz lembra as suas próprias palavras: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados pelo peso de cada dia e vos aliviarei… e encontrareis descanso para as vossas almas…” Há muita gente ignorando esse convite do Senhor, trocando o aconchego do Coração de Deus, por comodidades que as impedem de crescer. A cruz são os braços de Deus a nos afagar e a nos proteger. Fugir da cruz de Cristo é viver cansado e sem rumo.
As condições para o seguimento. “Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo…” A cena parece dizer que o Menino renunciou ao prazer dos brinquedos, optando pelos objetos da Paixão. Eis a difícil decisão: dizer não às próprias vontades para acolher a Vontade divina. O Menino está Crucificado: “… tome a sua cruz a cada dia e siga-me”. Abraçar a cruz é estar disposto a morrer a cada instante pelo Evangelho; é abandonar-se em Deus, colocando a vida e a história em suas mãos.
A Kenosis necessária. Ao se encarnar (descer) Deus nos eleva (divino nascimento). Em São Paulo da Cruz, o nascimento e a ressurreição têm o mesmo sentido. Paulo da Cruz experimenta uma verdadeira simbiose entre o mistério pascal e o mistério do Natal. A morte mística é ao mesmo tempo ir para a cruz com o Cristo e com Ele morrer e assumir o próprio nada para que aconteça em nós, uma nova Encarnação do Verbo. A vida é uma constante novidade de Deus: “Eis que faço novas todas as coisas.”
Natal é Paixão dolorosa para aqueles que não têm moradia, trabalho, saúde, dignidade… Para quem substituiu o Menino Jesus pelo papai Noel e para quem acredita que religião ainda é ópio. É Paixão amorosa, naqueles que perdem tempo com a pessoa e com a criação, promovendo a vida… certos de que a Criança de Belém está presente em cada grito de dor e em cada sorriso festivo. Natal é Paixão dolorosa e amorosa, porque Deus continua se encarnando, lembrando que o céu desceu à terra e a terra se elevou ao céu. Deus estabeleceu morada no coração do homem e o homem no coração de Deus. FELIZ E SANTO NATAL!
 Pe. Amilton Manoel da Silva, CP


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