História
Esta
devoção, embora já muito conhecida, precisa de ser explicada para
que o povo todo possa apreciar a sua origem, os seus fundamentos
teológicos, a sua importância soberana e a sua utilidade atual. A
devoção ao Menino Jesus data de Belém; passou pelos anjos, por
Maria e José, pelos pastores e Reis Magos e é continuada pelos
santos através dos séculos, seguindo ainda o seu curso sempre
ascendente.
Embora
muitos tenham ouvido falar do Menino Jesus de Praga, poucos conhecem
dados concretos a respeito dessa devoção à divina infância do
Salvador do mundo[1].
Transcorrendo neste mês a comemoração do nascimento do Divino
Redentor — a data máxima da Cristandade — julgamos oportuno
apresentar a nossos leitores o admirável histórico dessa devoção
ao Deus-Menino.
Desde
tempos imemoriais, os justos do Antigo Testamento ansiavam pela vinda
do Prometido das Nações, que viria endireitar os caminhos
tortuosos, aplainar os montes, encher os vales. Numa palavra, abrir o
Céu para a humanidade pecadora. O Profeta por excelência desses
futuros acontecimentos, Isaías, sete séculos antes da vinda do
Divino Redentor, anunciou que Ele nasceria de uma Virgem.
Nos
primeiros séculos da era cristã, muitos foram os santos que
abordaram o tema do Deus Menino e seu nascimento, especialmente o
Papa São Leão Magno[2].
Coube
à Idade Média a glória de corporificar e expandir essa devoção.
Vários santos foram então chamados pela graça divina a manifestar
especial enlevo pela divina infância de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ao qual se chega por meio de Nossa Senhora. São Francisco de Assis,
ao meditar enternecido a respeito do grande Deus que se tornou frágil
Menino numa manjedoura, montou o primeiro presépio para representar
esse divino mistério. Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa),
seguindo o exemplo de seu mestre e fundador, encantava-se com o
Deus-Menino, e mereceu recebê-Lo várias vezes milagrosamente em
seus braços. E é desse modo que o grande santo franciscano é
comumente representado. Outros santos tiveram a mesma graça.
Entretanto,
foi na Espanha da Contra-Reforma, durante o chamado "século de
ouro", que o divino Menino Jesus passou a ser venerado em
imagens em que aparece de pé, manifestando um ou outro de seus
atributos.
A
grande Santa Teresa de Ávila introduziu essa devoção em seus
conventos, e a partir deles espraiou-se por toda a Espanha e depois
pelo mundo. Seu discípulo e co-fundador do ramo carmelita masculino
reformado, o sublime São João da Cruz, entusiasmava-se tanto com
esse mistério de um Deus feito homem, que, durante o período de
Natal, levava a imagem do Menino Jesus em procissão, e bailava com
ela ao colo. Compôs também tocantes poesias sobre a Natividade.
Assim,
surgiram nos conventos carmelitas várias invocações do Menino
Jesus, como El Peregrinito, El Lloroncito, El Fundador, El Tornerito
e El Salvador.
Mas
tal devoção não se limitava aos claustros. Já Fernão de
Magalhães, quando descobriu as Filipinas, levava consigo uma dessas
imagens de Jesus Menino, e lá a deixou, sendo ela venerada até hoje
na ilha de Cebu.
Tomou
uma forma concreta e universal sob o título do Menino Jesus de
Praga. E sob este título, essa devoção foi eminentemente
carmelitana em sua origem, até que se tornou tesouro universal do
cristianismo. É na verdade uma flor delicada e divina que germinou e
floriu no jardim do Carmelo e que, desabrochando sob o calor
vivificador da Chama Divina, despede pelo mundo inteiro o seu
consolador e suave aroma. O CONVENTO DE PRAGA. O Soberano Pontífice
Paulo V nomeou o venerável P. Domingos de Jesus Maria (Geral dos
Carmelitas Descalços e confessor de Sua Santidade), seu Legado junto
do Imperador da Áustria, Fernando II, que defendia os direitos de
Deus e da Igreja Católica contra o príncipe palatino de Pfalz,
encarniçado calvinista, que se apoderou do trono e se fez coroar rei
na cidade de Praga. Fernando II pôs toda a sua esperança na
intercessão de Maria Santíssima e nas orações do Venerável P.
Domingos. No dia da Assunção o Senhor revelou a este santo
religioso a vitória dos exércitos católicos. Antes de entrar na
batalha, impôs o Escapulário do Carmo ao Imperador da Áustria, ao
Duque da Baviera e a todos os soldados; monta a cavalo e, tendo o
Crucifixo numa das mãos e mostrando com a outra um quadrinho da
Sagrada Família, que tinha sido profanado pelos hereges, exorta os
soldados a implorar a proteção de Maria contra os inimigos do
Catolicismo. Três horas bastaram para dispersar o grande exército
calvinista de 100.000 homens. O Imperador como testemunho de
gratidão, fundou conventos de Carmelitas em Viena, Gratz e Praga.
É
este convento de Praga que o Menino Jesus vai escolher para fazer
brilhar o seu poder e amor soberanos.
Carmelita
Venerável: confidente do Divino Infante
Coube
porém a uma filha de Santa Teresa ser a confidente do Menino Jesus e
a propagadora da sua devoção. Trata-se da Venerável Margarida do
Santíssimo Sacramento (1619-1648), carmelita do convento de Beaune,
na França. Esta freira, falecida aos 29 anos, entrou para o convento
aos 11 anos como pensionista. Tinha grande familiaridade com os Anjos
e Santos e o privilégio de participar de todos os grandes mistérios
da Vida do Salvador, como seu Nascimento, Transfiguração e Paixão.
Entretanto, recebeu a missão especial de venerar e propagar
especialmente a devoção à divina infância de Cristo.
"Eu
te escolhi para honrar e tornar visível em ti minha infância e
minha inocência, quando eu jazia no presépio", disse-lhe o
Menino-Deus, quando ela rezava diante de uma imagem sua existente no
convento, conhecida como O Rei da Glória. A Irmã Margarida do
Santíssimo Sacramento recebia muitas graças extraordinárias,
mediante as quais o Menino Jesus fazia-lhe compreender de um modo
mais profundo esse mistério[3].
Ela
fundou a Família do Menino Jesus, convidando todos os que dela
quisessem participar a celebrarem com fervor os dias 25 de cada mês,
em lembrança da Santa Natividade, e a rezarem a Coroinha do Menino
Jesus (três Padre-Nossos e 12 Ave-Marias) em honra dos 12 primeiros
anos de sua vida.
Dois
séculos mais tarde, outra carmelita, Santa Teresinha do Menino Jesus
(+ 1897), honrou de modo especial o Deus-Menino, não só ao
escolhê-Lo para seu nome em religião, mas iniciando a via da
"Infância Espiritual". Foi numa noite de Natal, a de 1886,
que ela recebeu a maior graça de sua vida, segundo disse, isto é, a
de sair da imaturidade da infância para entrar na grande via dos
santos.
Ela
se abandonava ao Deus-Menino com toda docilidade, como uma bola nas
mãos de uma criança. Quando recebeu o encargo de adornar uma
imagenzinha do Menino Jesus que havia no claustro, ela o fazia com
grande devoção. Além disso, mantinha prolongados colóquios com o
Deus-Menino diante da imagem do Menino Jesus de Praga que se
encontrava no coro do noviciado.
Maravilha
de Praga: o Pequeno Rei
Praga,
capital da atual República Checa, é considerada, a justo título,
uma das mais belas capitais da Europa. O visitante não se cansa de a
percorrer, sempre descobrindo coisas novas e maravilhas não
suspeitadas. Sua topografia concorre muito para sua beleza, e o rio
Moldava, que a corta, tornou-se quase legendário. A arquitetura de
Praga reflete os vários períodos de sua história. Nela se vêem
desde fundações românicas, belíssimos exemplos do gótico
religioso e civil, edifícios renascentistas, barrocos e clássicos.
E até um exemplo da chamada "arte" moderna, como infeliz
concessão ao espírito do tempo.
Entre
os inúmeros prédios dignos de menção nessa cidade privilegiada,
figura a igreja de Nossa Senhora das Vitórias, primeiro santuário
barroco local, erigido de 1613 a 1644. Pertencente aos carmelitas
descalços, nela está a grande maravilha de Praga: a encantadora
imagem do Pequeno Rei, como é conhecido o Menino Jesus de Praga.
A
Princesa Polyxene de Lobskowitz
Era
uma das senhoras mais distintas e piedosas do seu tempo, conhecedora
da voluntária pobreza em que viviam os Padres Carmelitas e da grande
estima que o povo cristão lhes tributava depois da miraculosa
vitória da Montanha Branca, obtida pelas orações do Venerável P.
Domingos. Possuía, entre as suas lembranças de família, a imagem
do Menino Jesus, que sua mãe, princesa Manrique de Lara (da família
real de Espanha), lhe tinha oferecido como o mais valioso presente do
casamento; ela, por sua vez tinha-a recebido de Santa Teresa de
Jesus. Em 1628, esta piedosa princesa, como impelida por uma força
superior, compreende que deve desprender-se daquela prenda querida e
entregá-la aos Padres Carmelitas, que ficariam como os seus melhores
e mais devotos custódios. Apresenta-se de facto no convento, e
diante de toda a comunidade, entrega ao Padre Prior, venerável Fr.
João Luís da Assunção, a belíssima imagem, dizendo-lhe: «Meu
Padre, eu vos dou o que tenho de mais querido. Honrai esta imagem do
Menino Deus e nada vos faltará». A imagem foi exposta à veneração
dos religiosos no coro-oratório, onde tinham lugar os atos piedosos
da comunidade.
As
palavras da augusta doadora verificaram-se à risca. Deus
prodigalizou as suas graças ao convento que possuía o Divino
Menino: nunca lhes faltou o necessário; foi cumulado de bênçãos
espirituais e temporais enquanto ali preservou a devoção ao Menino
Jesus (Crônicas dos Carmelitas Descalços da Província de Áustria).
Frei
Cirilo: de miraculado a apóstolo do Menino Jesus
Habitava
esse convento um jovem sacerdote, Frei Cirilo da Mãe de Deus, que,
tendo deixado o ramo carmelita mitigado, abraçara a reforma de Santa
Teresa. Porém, em vez de encontrar a paz que tanto esperava,
sentia-se como um réprobo, sofrendo as penas do inferno. Nada o
consolava ou apaziguava.
O
prior, notando-o macambúzio e abatido, perguntou-lhe o que estava
acontecendo. Frei Cirilo abriu-lhe o coração, contando todas as
suas penas. "Uma vez que o Natal se aproxima, disse-lhe o prior,
por que não se põe aos pés do Santo Menino e lhe confia todas as
suas penas? Verá como Ele o ajudará".
Obedecendo,
Frei Cirilo dirigiu-se à imagem do Menino Jesus: "Querido
Menino, olhai minhas lágrimas! Estou a vossos pés, tende piedade de
mim!" No mesmo instante, sentiu como que um raio de luz penetrar
em sua alma, fazendo desaparecer todas as angústias, dúvidas e
sofrimentos.
Comovido
e sumamente agradecido, Frei Cirilo tornou-se um verdadeiro apóstolo
do Divino Infante.
Ataque
sacrílego de protestantes
Entretanto,
os protestantes se reagruparam em novembro de 1631, sob o comando do
príncipe eleitor da Saxônia, e assediaram novamente Praga. Houve
pânico entre os imperiais e a angústia dominou os habitantes da
cidade. Muitos fugiram.
Frei
João Maria, por prudência, mandou seus frades para Munique,
permanecendo ele na cidade para custodiar o convento com apenas mais
um religioso.
Praga
capitulou. Os soldados protestantes invadiram igrejas e conventos,
profanando e destruindo os objetos do culto católico. Puseram na
prisão os dois frades carmelitas e começaram a depredar o convento.
Vendo no oratório dos noviços a imagem do Menino Jesus, começaram
a rir e a zombar dela. Um dos soldados, desejoso de mostrar-se diante
dos outros, com a espada decepou as mãozinhas da imagem sob os
aplausos dos companheiros. Depois, empurrou-a para o meio dos
escombros a que ficara reduzido o altar.
Assim,
a veneranda imagem ficaria sepultada debaixo dos escombros, e sem os
seus fiéis devotos, pois os Carmelitas viram-se obrigados a fugir
para não perecerem em tamanha hecatombe. O terror, a miséria e a
desolação reinavam na cidade de Praga e nos seus habitantes,
ameaçados de morte pelos ferozes invasores.
Encontro
da Imagem
Foi
precária a paz de 1635 que trouxe os Carmelitas ao seu antigo
convento, quase todo ele em ruínas. Por falta de meios e de pessoal,
foram demorados os trabalhos de restauração, empreendidos por sua
vez num ambiente de insegurança e timidez, provenientes da presença
dos protestantes. Os religiosos, sumidos na mais espantosa miséria e
reduzidos à extrema indigência, erguiam ao céu as mais ardentes
súplicas a fim de obter uma verdadeira paz e alívio nas terríveis
dificuldades que estavam atravessando. Os seus pedidos – com grande
espanto dos religiosos – não eram atendidos no céu. O que
esclareceu esta confusa e difícil situação foi a vinda do P.
Cirilo da Mãe de Deus em 1637, que outrora tinha estado no Noviciado
de Praga, e que era devotíssimo do Menino Jesus. Este santo
religioso, compreendendo que Deus não queria abençoar a comunidade
e a cidade enquanto o Menino Jesus não fosse honrado como merecia,
pediu ao Superior licença para procurar a imagem do Menino Jesus,
dizendo-lhe: «Se nós O honrarmos de novo, Ele nos dará segurança».
Obtida a licença, após reiterados esforços tem a grande felicidade
de encontrar a tão desejada imagem atrás do altar, coberta de pó e
sujeira . Por incrível que pareça, ninguém havia mexido naquele
local durante aqueles atribulados tempos. Com alegria, levou-a ao
prior. Diante da imagem com as mãos decepadas, os frades oraram
fervorosamente pela salvação da cidade, o que realmente se deu.
Fala
a Imagem
Logo
que foi colocada no coro a imagem venerada, entre cânticos e
lágrimas dos religiosos, o inimigo, que durante seis longos anos
tinha cercado a cidade de Praga, levanta o cerco; e o convento, que
vivia sumido na mais desoladora miséria, vê-se provido do preciso
para viver com desabafo. Estes dois factos foram o princípio duma
nova era no culto da santa imagem e o início de outros inúmeros
prodígios e favores. Os bons religiosos recorriam em tudo ao Menino
Jesus e, movido por especial fervor, o venerando Padre Cirilo passava
horas e horas em oração diante do seu Reizinho. Um dia em que
estava ajoelhado para Lhe tributar as suas homenagens, ouviu
claramente a voz do Menino Jesus que lhe diria: «Tende piedade de
Mim, e Eu terei piedade de vós; restituí-Me as minhas mãos que me
cortaram os hereges, e Eu vos darei a paz. Quanto mais Me honrardes,
mais Eu vos favorecerei». Estas ternas palavras, que encerram três
belas promessas, são a garantia mais segura para as almas que a Ele
recorrem em demanda de paz para os seus espíritos atribulados e de
bênção para as necessidades espirituais e materiais. Reparação
da imagem. O Venerável Padre Cirilo recorreu logo ao Superior, certo
de que a imagem ia ser consertada, mas o Superior entendeu que uma
estátua mais bonita e mais rica seria melhor, e por isso a antiga
foi posta de lado. O P. Cirilo teve que obedecer, mas Deus manifestou
o seu descontentamento. No mesmo dia da inauguração da nova imagem,
um candelabro chumbado na parede desprende-se repentinamente e reduz
a mil pedaços a imagem; ao mesmo tempo caía o Superior gravemente
doente não podendo acabar o seu triênio de mandato. Nomeado o novo
Prior, o zeloso P. Cirilo pede-lhe imediatamente que mande reparar as
mãozinhas do Menino Jesus mutilado, mas ouve esta resposta
desconcertante: «Não podemos fazer esta despesa agora em que o
restauro da Igreja e do convento exige gravíssimos sacrifícios».
Mas a palavra de Deus, embora Menino, é omnipotente, e Ele não
deixará de realizar os seus altíssimos desígnios. A comunidade
volta a cair na miséria, a peste assola a cidade, alguns religiosos
morrem vitimados pela peste e o próprio Prior fica gravissimamente
atingido, em perigo de morte. E então, de acordo com a comunidade,
manda celebrar dez missas diante da imagem do Menino e propagar a sua
terna devoção. Cumprida a promessa das dez missas, fica curado e,
quer o Prior, quer os outros religiosos, depositaram a sua confiança
no Milagroso Menino Jesus.
Apareceu-lhe
então a Santíssima Virgem e o fez compreender que o Menino Jesus
deveria ser restaurado o quanto antes, e ser exposto à veneração
dos fiéis em uma capela a Ele dedicada. É sempre Nossa Senhora quem
conduz a Jesus!
A
imagem, porém, não foi reparada, e muitas vezes o P. Cirilo
desabafava a sua dor aos pés do Divino Infante, até que um dia ouve
a mesma voz dizer-lhe: «Põe-Me à entrada da sacristia e alguém
terá piedade de Mim». O Padre obedeceu logo, e a antiga imagem, com
as mãos quebradas, foi colocada à entrada da sacristia. Um
estrangeiro, chamado Daniel Wolf, quis tomar à sua conta a
restauração da imagem e foi imediatamente favorecido por Deus. Este
estrangeiro vergado ao peso dum processo, porque o acusavam de
desempenhar mal as suas funções de Comissário de guerra, perdera
já o seu lugar e ia ficando arruinado. Logo que se encarregou da
restauração da imagem, o processo foi arquivado, mereceu as graças
do Soberano e a sua fortuna restabeleceu-se.
A
imagenzinha foi assim restaurada e colocada dentro de uma urna de
cristal próxima à sacristia. Cumpria-se assim o desejo expresso por
Nossa Senhora a Frei Cirilo, de que o Menino fosse exposto à
veneração pública.
Cura
miraculosa e aumento do culto
Um
fato inesperado iria ter muita influência no culto ao Pequeno Rei.
Certo dia, em 1639, Frei Cirilo, tido já por muitos como um santo,
foi procurado pelo Conde de Kolowrat, Enrique Liebsteinski, cuja
esposa estava gravemente doente. O Conde pediu ao carmelita que
levasse a imagem do Menino Jesus à cabeceira da enferma, alegando
que esta era prima da Princesa Polyxena, que havia doado a imagem ao
Convento. Como vários médicos já a haviam desenganado, a única
esperança que restava era o Santo Menino.
Frei
Cirilo não podia deixar de atender tão justo pedido. Chegando ao
quarto da moribunda, disse-lhe o marido: "Querida, abre os
olhos. Vê, aqui está o Menino Jesus para curar-te". Com muito
esforço a enferma abriu os olhos, seu rosto iluminou-se, e ela
exclamou: "Oh! O Menino está aqui no meu quarto!" E ergueu
os braços para ele, a fim de osculá-lo. Vendo isso, o marido
exclamou exultante: "Milagre! Milagre! Minha mulher está
salva!"
A
alegria foi geral. Apenas restabelecida, a condessa foi ao convento e
ofereceu ao Menino uma coroa de ouro e objetos preciosos em sinal de
gratidão. Este foi um dos milagres mais célebres atribuídos ao
Pequeno Rei.
Tornado
conhecido esse prodígio, é natural que sua fama começasse a
disseminar-se não só na corte, mas também entre o povo da cidade e
redondezas. E diante do altar do Menino Deus começaram a afluir,
cada vez em maior número, peregrinos de todas as partes.
Isso
fez com que uma rica dama da corte, levada por devoção indiscreta,
furtasse a imagem. Mas esse sacrilégio foi castigado por Deus, e o
Pequeno Rei retornou aos carmelitas.
As
muitas doações em dinheiro e em espécie, com as quais os fiéis
agradeciam graças recebidas do Divino Infante, tornaram possível
construir a capela destinada à milagrosa imagem. Para sua solene
consagração, em 1648, foi convidado o Arcebispo de Praga, Cardeal
Ernesto Adalberto de Harrach, que concedeu aos frades a mais ampla
faculdade de celebrar missa nessa ermida do Santo Menino Jesus. Com
essa solene confirmação do Arcebispo, a capela do Pequeno Rei da
Paz converteu-se num lugar de culto oficial e muito frequentado.
Rápido
Desenvolvimento
A
devoção ao Menino Jesus tinha-se conservado até este período na
intimidade e solidão do convento, especialmente no Santo Noviciado.
O bem-estar, tanto espiritual como material do convento, dependia
visivelmente dos maiores ou menores cuidados que tinham com a imagem
do «Pequenino-Grande», e narra a história que alguns Carmelitas
foram, várias vezes, cruelmente punidos por não terem rodeado a
querida imagem das honras que Lhe eram devidas.
Culto
Público
Os
Padres Carmelitas fundados em muitas provas de proteção recebidas
do Menino Jesus, reconheceram que tinham no convento um tesouro de
incalculável valor, que não podia ficar por mais tempo escondido,
mas que devia ser exposto à pública veneração. A Baronesa
Catarina de Lobskowitz, dirigida do Padre Cirilo e alma santa, mandou
erigir um magnífico altar para nele colocar a prodigiosa estátua do
Menino Jesus. E rodeada por um cortejo branco de religiosos foi
transportada do convento para a Igreja, onde a colocaram sobre o
altar que com tanto cuidado Lhe tinham preparado, sendo cantada a
missa em sua honra.
Foi
então que pela primeira vez se rendeu culto público à imagem do
Menino Jesus de Praga.
Novas
provações, altar definitivo
Novamente
em 1648, em outra batalha durante a Guerra dos Trinta Anos, as tropas
dos protestantes suecos invadiram a cidade e transformaram o convento
carmelita em hospital de campo. Mas nenhum dos 160 soldados feridos
ali tratados atreveu-se a escarnecer do Santo Menino. Pelo contrário,
o próprio comandante dos invasores, o General Konigsmark, durante
uma inspeção, prostrou-se diante da milagrosa imagem, dizendo: "Ó
Menino Jesus! Não sou católico, mas também creio em tua infância
e estou impressionado ao ver a fé das pessoas e os milagres que
fazes em seu favor. Eu te prometo que, no que me for possível, farei
levantar o aquartelamento do convento". E entregou aos frades um
donativo de 30 ducados.
Pouco
depois os suecos levantaram o assédio de Praga, e todos atribuíram
a libertação à proteção do Pequeno Rei.
A
Admirável Visão do P. Cirilo
O
«devoto capelão» do Menino Jesus via com grandíssimo agrado o seu
«Pequeno-Grande» ser cada vez mais amado pelos religiosos e pelo
povo. Mas ninguém estava satisfeito; de toda a parte se pedia a
construção duma Igreja exclusiva d’Ele. Este era também o desejo
dos Padres Carmelitas. Tais aspirações foram confirmadas pela
Santíssima Virgem, que apareceu ao seu venerável servo P. Cirilo.
Ao princípio das matinas envolvida numa nuvem e rodeada por multidão
de anjos e indicando com o dedo um lugar determinado diz:
«Edificar-se-á aqui uma Igreja ao meu Filho». No dia seguinte o P.
Cirilo corre ao lugar indicado pela Virgem, e com imensa alegria vê
as linhas demarcativas da Igreja. O Prior dos Carmelitas Descalços
manifestou os seus desejos aos piedosos e ilustres barões de
Lobskowitz. Estas almas devotas, honradas com tão agradável
convite, tomaram à sua conta a construção da nova Igreja, que foi
benzida em 1644; estava pegada à primitiva Igreja de Nossa Senhora
da Vitória. A veneranda imagem, rodeada por um magnífico cortejo e
seguida por imenso povo, foi transportada solenemente ficando assim a
tomar conta do seu novo Santuário onde se constituíram missas
perpétuas. A 14 de Janeiro de 1651, o Eminentíssimo Sr. Cardeal,
Arcebispo de Praga, consagrou o altar com singular júbilo do povo
cristão.
A
Gratidão do Menino Jesus
O
novo Santuário com o preciosíssimo altar do Menino Jesus foi um
verdadeiro trono de graças e favores extraordinários. A Casa de
Lobskowitz foi a alma desta grande empresa: a construção do
Santuário. Rapidamente experimentaram aqueles bons senhores a
proteção do Menino Jesus. Um filho daquela Casa encontrava-se na
iminência de perder a sua honra e a sua antiosa fortuna. Refugiou-se
na Igreja dos Carmelitas, e lá, aos pés do Menino Jesus, fez, com a
mais viva fé, este juramento: «Eu, o abaixo assinado, hoje, dia de
São João Batista, comprometo-me a fundar uma renda perpétua em
favor do meu amadíssimo Menino Jesus, venerado nos Carmelitas
Descalços de Praga. Em fé deste juramento, junto a Deus por
testemunha. Feito a 24 de Junho de 1643. Fernando Cristóvão, Barão
de Lobskowitz».Logo que fez a sua grande promessa, sentiu que a sua
oração tinha sido atendida, pelo que voltou à casa paterna livre
de todo o perigo e aflição. As graças e favores obtidos pela
devoção ao Menino Jesus eram cada vez mais numerosas, como atestam
os ex-votos oferecidos ao Divino Infante. No mesmo dia em que o
Santuário foi inaugurado, o Conde Ernesto de Chilick teve um ataque
fortíssimo de gota; o caso era considerado pelos médicos como
completamente desesperado. Não tendo mais nenhuma esperança, enviou
ao Santuário do Menino Jesus ricos presentes para obter uma boa
morte. No entanto, prometeu que, se num caso inesperado ele
recuperasse a saúde, instituiria uma missa semanal em louvor do
Divino Infante. No dia seguinte estava completamente curado. A partir
de 1642 a devoção ao Menino Jesus de Praga, como já era chamado,
tomou tal incremento, que o clero e o povo acorriam constantemente ao
Santuário do «Menino-Grande» a fim de agradecer os grandes
benefícios que lhes dispensara e pedir novos favores para a Igreja e
para a Pátria.
Ante
aquela imagem vinham prostrar-se o plebeu e o nobre, o inocente e o
pecador, os grandes e os pequenos, especialmente as crianças, pelas
quais o Menino Jesus tem uma predileção especialíssima; ante
aquela imagem expunham-se os negócios árduos e as grandes aflições.
E todos eram atendidos segundo a fé e a confiança que no Menino
Jesus depositavam. Por isso foi e continua a ser chamado Menino Jesus
Taumaturgo, Miraculoso, Milagroso.
Confirmação
e expansão do culto
Com
a volta à normalidade, chegou a Praga em 1651 o Superior Geral dos
Carmelitas, Frei Francisco do Santíssimo Sacramento, que aprovou a
devoção do Divino Infante, recomendando aos frades que a
difundissem pelos outros conventos austríacos e entre os fiéis.
Deixou escrita uma carta, reconhecendo a legitimidade do culto à
sagrada imagenzinha, que foi afixada na porta da capela do Menino
Jesus.
Em
1655, graças à contribuição do Barão de Tallembert, a milagrosa
imagem foi colocada em magnífico altar na igreja de Santa Maria da
Vitória e solenemente coroada pelo Arcebispo de Praga, D. José de
Corti. Ainda hoje se celebra uma festa solene no dia da Ascensão, em
lembrança dessa coroação.
No
ano de 1675, Frei Cirilo da Mãe de Deus entregou sua alma a Deus em
odor de santidade, aos 85 anos de idade.
A
devoção ao Divino Menino continuou alastrando-se por todas as
camadas sociais. A grande imperatriz do Império Austro-Húngaro,
Maria Teresa, quis confeccionar em 1743, com suas próprias mãos,
uma rica veste para o Pequeno Rei.
O
Conde Bernardo de Martinitz, grande Marquês da Boémia, mandou-Lhe
fazer uma coroa de ouro, ornada de pérolas e diamantes, cuja
elegância igualava à riqueza. E a imagem foi coroada a 4 de Abril
de 1655 por Monsenhor José Corti, Bispo Auxiliar do Eminentíssimo
Cardeal de Praga, doente nessa ocasião.
Milagres
Durante a Peste
O
ano de 1713, foi para a cidade e arredores de Praga dos mais
desastrosos. A peste devastou a população. Basta dizer que, só
desde o dia 22 de Agosto deste ano até Março do ano seguinte
vitimou mais de 20.000 pessoas e perto de dois milhões de cabeças
de gado. Nesta terrível conjuntura o povo não esqueceu o seu
celeste protetor. Os Padres Carmelitas diziam missa no Santuário e
recitavam as ladainhas do Santo Nome de Jesus. O povo corria ali,
desde o romper do dia até à tarde, em multidão, e quando se
fechava a Igreja, muitos ainda pediam a graça de os deixar entrar,
visto não terem antes conseguido um lugar. Narram os historiadores
que era verdadeiramente comovedor ver esta multidão invadir o
Santuário e pedir de joelhos ao Menino Jesus a sua proteção divina
contra o terrível flagelo da peste. A sua confiança não os
enganou: constatou-se que os que recorriam à Sua divina proteção
não eram atacados por este mal terrível. Houve no entanto um facto
que chamou a atenção, e que contribuiu para mostrar a eficácia da
devoção ao Menino Jesus. Um fervoroso cristão, chamado Maloiski,
foi atacado pela mortífera peste. Não estando em condições de ir
orar diante da imagem do Santuário, deitou-se na cama cheio de
confiança, depois de invocar a proteção do Divino Infante, de quem
era devotíssimo. Sobreveio-lhe um sono profundo e, quando acordou, o
mal tinha desaparecido. Uma mulher de Praga, tendo ouvido este facto,
não quis acreditar na sua possibilidade e riu-se da devoção à
qual o homem devia a sua cura. No mesmo dia sentiu-se atacada pela
peste e no dia seguinte estava morta.
Estes
e outros inúmeros prodígios operados pelo Menino Jesus concorreram
eficazmente para que esta devoção tomasse um rápido incremento em
toda a Europa e, atravessando o Atlântico e o Pacífico, chegasse
aos últimos confins da terra como corrente vivificadora e
consoladora.
Imagem
preservada durante tiranias nazista e comunista
Em
1744, mais uma vez as tropas dos protestantes, agora prussianos,
cercavam Praga. As autoridades da cidade acorreram ao convento dos
carmelitas, pedindo ao prior que o Pequeno Rei fosse levado em
procissão solene pela cidade, a fim de a livrar da destruição dos
hereges. E realmente chegou-se a uma capitulação honrosa, sem
batalhas; poucos meses depois os prussianos deixaram Praga, e todos
seus comovidos habitantes acorreram à igreja de Nossa Senhora da
Vitória para agradecer ao Menino Jesus mais essa graça.
Entretanto,
outro perigo maior ameaçava a devoção ao Divino Infante. Em 1784,
o ímpio Imperador José II suprimiu o convento dos carmelitas e
confiou a igreja de Nossa Senhora da Vitória à Ordem de Malta. E
assim, sem a assistência contínua dos carmelitas, o culto ao Menino
Jesus decaiu.
Já
no século XX, durante a II Guerra Mundial, houve a ocupação de
Praga pelos nazistas, e depois o flagelo comunista abateu-se sobre o
país durante quase 50 anos. Mas nem um nem outro inimigo da fé
católica atentou contra a milagrosa imagem, que continuou em seu
trono na igreja de Nossa Senhora da Vitória.
De
Praga, o culto ao Menino Jesus já se havia estendido por toda a
Europa, e daí para a América Latina (inclusive Brasil), Índia e
Estados Unidos. Neste país, isso se deu graças à devoção de
Santa Francisca Xavier Cabrini, que ordenou a entronização, em cada
uma das casas do instituto por ela fundado, de uma imagem do Pequeno
Rei.
Devoção
expande-se a Arenzano
Em
1895, os carmelitas de Milão pediram ao Cardeal Ferrari licença
para introduzir a devoção ao Menino Jesus de Praga em sua igreja de
Corpus Domini. O Cardeal não só autorizou a entronização, mas
quis ele mesmo fazê-la em presença de três mil fiéis. Na ocasião,
consagrou todas as crianças de Milão ao Menino Jesus de Praga.
A
partir de então, essa devoção conquistou o coração dos
italianos.
No
convento carmelita de Arenzano, fundado em 1889 pelo irmão do
fundador de Corpus Domini, surgiu a ideia de se expor um quadro
representando o Menino Jesus de Praga na igreja do convento. Os
habitantes da cidade logo se mostraram muito sensíveis ao novo
culto, e o Pequeno Rei atendeu suas orações e pedidos com muitas
graças e bênçãos.
No
ano de 1902, para substituir o quadro, a Marquesa Delfina Gavotti, de
Savona, presenteou os frades com uma imagenzinha do Menino, cópia
exata da de Praga. A enorme afluência dos fiéis ante o altar do
Menino Jesus convenceu os frades a construírem um santuário
expressamente dedicado a Ele. A primeira pedra foi colocada em
outubro de 1904, e quatro anos mais tarde o templo era solenemente
consagrado.
O
cronista do convento carmelita anotou então: "Para todos foi
claro que só o culto à infância divina, venerada com o título do
Santo Menino Jesus de Praga, deu origem, desenvolvimento e feliz
final à nossa empresa de construir esta igreja, para que fosse para
os fiéis de toda Itália o centro propulsor desta devoção".
No
dia 7 de setembro de 1924, Sua Santidade o Papa Pio XI enviou
especialmente o Cardeal Merry del Val para coroar solenemente a
sagrada imagem. Assim, a devoção ao Menino Jesus de Praga recebia a
aprovação oficial da Igreja.
Em
Praga: proibição do culto pelos comunistas
Enquanto
em Arenzano florescia a devoção, em Praga, transformada em capital
da então Checoslováquia, o regime comunista impedia o livre
exercício de culto, propugnando o ateísmo do Estado. Em 1968, uma
tentativa de livrar-se do regime ímpio foi sufocada com sangue na
chamada Primavera de Praga.
A
devoção ao Menino Jesus continuava restrita aos que frequentavam a
igreja onde estava exposto, e também ao fruto do apostolado das
monjas carmelitas que, deportadas para longe de Praga, pintavam
estampas com o Santo Menino e as enviavam clandestinamente a outros
conventos europeus.
Finalmente,
em 1989, com a queda do Muro de Berlim, e depois, com a Revolução
do Veludo, cessou a ditadura comunista na Checoslováquia, que se
transformou na República Checa, independente e soberana. Foi
restabelecida a liberdade civil e religiosa, e o novo Arcebispo de
Praga, que fora também vítima da repressão comunista, quis que
reflorescesse a devoção ao Menino Jesus. A convite dele, dois
frades carmelitas, justamente de Arenzano, foram para Praga reabrir o
convento e estimular a devoção ao Divino Menino Jesus.
É
a Devoção Mais Simpática
O
motivo é muito simples e evidente. Apresenta-nos a Jesus na fase
mais encantadora da sua vida: a INFÂNCIA. E a infância é,
indiscutivelmente, a idade mais bela – também a mais feliz – em
todo o sentido: humana e divinamente.
A
idade mais bela humanamente! As crianças têm encantos
incomparáveis, únicos! A criança é a flor mais mimosa, mais
delicada, mais encantadora que há no mundo; que a todos agrada e a
ninguém desgosta; que faz vibrar os sentimentos mais recônditos da
alma e que, com uma força irresistível, cativa os corações. Um
lar sem crianças é como um vaso sem flores. É também a mais bela
divinamente! Jesus teve pelas crianças uma especialíssima
predileção. «Deixai, dizia Ele, as criancinhas e não as impeçais
de vir a Mim, pois delas é o reino dos céus» (Mt. 19, 14). E
Jesus, sempre tão comedido nas suas manifestações afetivas,
derramava nas crianças as ternuras mais delicadas do seu puríssimo
coração: «Depois, tomou-as nos braços e abençoou-as,
impondo-lhes as mãos» (Mc. 10, 16). Só para as crianças reservava
estas ternuras. O Menino Jesus tem todos os encantos duma criança;
mais: os encantos todos duma criança que é ao mesmo tempo Deus.
Jesus pequenino inspira-nos uma confiança sem limites, uma
intimidade carinhosa. Quem é que tem medo duma criança? Jesus
«grande» inspira-nos um amor de intimidade. Jesus na cruz atrai-nos
pela grandeza dos seus sofrimentos, na Eucaristia pela sublimidade do
seu amor... na Infância pela suavidade dos seus encantos
humano-divinos.
A
devoção ao Menino Jesus tem a grandíssima vantagem de arrebatar os
corações com os seus encantos divinamente infantis, colocando-nos
num ambiente de intimidade total com Deus e, por isso mesmo, de quase
naturalmente introduzir-nos no caminho da Infância espiritual, que é
a celestial mensagem de santidade ensinada por Santa Teresinha do
Menino Jesus.
É
uma Devoção de Grandíssima Utilidade
O
coração de Jesus Menino está animado por um veementíssimo desejo
de ABENÇOAR, e abençoar a TODOS e SEMPRE. Na sua imagem vêmo-lO
com a sua mãozinha direita levantada como para abençoar; não é a
mãozinha duma criança impotente, mas a MÃO infinitamente PODEROSA,
OMNIPOTENTE de um Deus humanado e que, sendo «pequenino» move forte
e suavemente a máquina universal do mundo, desde o grãozinho de
areia, que é levado nas asas do vento, até aos desertos quase
infinitos do mundo misterioso que nos envolve. Nessa mesma imagem
vêmo-lO revestido de rei e, como emblema do seu poder soberano, tem
na mão esquerda o globo terrestre. Aos encantos incomparáveis da
sua Infância alia harmoniosamente o poder infinito de um Deus
humanado.
Estamos
convencidos que esta devoção há de produzir nas almas e nas
famílias grandes frutos de salvação e santificação, para bem da
humanidade inteira, e que há de ocupar um lugar de soberana grandeza
no culto cristológico. A sua importância e utilidade foram
reconhecidas pelos mestres da espiritualidade, que consideram a
devoção ao Menino Jesus como um estímulo poderoso para entrar no
caminho da Infância Espiritual, que é um «Caminho Novo» por onde,
segundo Bento XV, «os fiéis de qualquer nação, idade, sexo e
condição devem entrar generosamente, caminho pelo qual Santa Teresa
do Menino Jesus atingiu o heroísmo da virtude. Desejamos que o
segredo da santidade de Santa Teresa não fique ignorado de nenhum
dos nossos filhos» (Bento XV).É verdade: Teresinha trouxe ao mundo
o «Omen novum», uma mensagem nova até agora desconhecida pela
maior parte dos cristãos, a mensagem da santidade universal para
todas as almas desejosas de perfeição, voltando assim a encontrar o
sentido genuíno, puríssimo, profundíssimo – e tão simples –
dos ensinamentos do Mestre Divino que dizia: «Se não voltardes a
ser como as criancinhas, não podereis entrar no reino do céus»
(Mt. 18, 3). Estas palavras indicam que, mesmo para nos salvar,
havemos de nos tornar criancinhas. E Jesus, como Menino, é o modelo
perfeitíssimo e concreto para todos os que aspiram à perfeição –
a que, como cristãos, todos estamos obrigados – indo pelo caminho
rápido da Infância Espiritual. Teresinha, a doutora incomparável
desse novo caminho, providencialmente escolheu o nome de Teresinha do
Menino Jesus.
A
utilidade desta devoção patenteia-se ainda mais concretamente pelas
grandes promessas feitas pelo Menino Jesus de Praga, promessas
extremamente generosas e consoladoras, tão generosas e consoladoras
que merecem um capítulo especial.
O
dia 25
O
dia 25 é o dia do Menino Jesus celebrado
em memória do seu santo Nascimento
O
Evangelista João ao abrir o seu Evangelho faz-nos subir até às
origens eternas do Verbo Eterno para, de seguida, nos fazer
contemplar a sua existência histórica.
O
Evangelista formula assim a assombrosa mensagem: ‘E o Verbo fez-se
carne e habitou entre nós’ (1:14).
A
Incarnação é o mistério dos mistérios. Só a fé pode aceitar o
indizível paradoxo de podermos contemplar um Deus homem, um Eterno
temporal, um Imenso limitado!
O
Filho de Deus, ao assumir a humanidade, alcançou o mais profundo
empequenecimento, ao fazer-se em tudo semelhante a nós menos no
pecado (Atos 4:15).
Cristo
abraça todas as debilidades e limitações da humanidade e, de entre
elas, a mais pequena: a infância! Assim é a desconcertante lógica
da Incarnação!
Ao
longo dos tempos muitos dos maiores homens e mulheres de fé se
sentiram apanhados pelo mistério da ternura do Deus-menino.
No
Carmelo, sempre floresceu esta terna devoção à Santa infância.
Recordemos S. João da Cruz bailando com a imagem do menino Jesus;
recordemos S. Teresa de Jesus falando com Jesus de Teresa; recordemos
S. Teresinha do Menino Jesus atirando flores à sua imagem e fazendo
tudo por Lhe agradar...
No
Santuário do Divino Menino Jesus de Praga celebramos todos os dias
25 uma missa que oferecemos por todos os amigos, benfeitores e
devotos do Menino Jesus, vivos e defuntos.
A
Missa celebra-se às 8h00 (em dia de semana); ou 11h30 (se o dia 25
for Domingo).
[1] Este
artigo foi baseado na excelente obra El Pequeño Rey, de Sorella
Giovanna della Croce, C.S.C, tradução do italiano para o
castelhano pelo Pe. Juan Montero Aparício, AGAM, Madonna dell'Olmo,
Cuneo, Italia.
[2] Vide,
por exemplo, suas Homilías sobre el año litúrgico, BAC, Madrid,
1969, pp. 99 ss.
[3] Cfr.
Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral,
Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo 15, p. 379.
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